Carícias e Emoções

Desde a década de 60, com os estudos de Harlow, Bowlby e Spitz entre outros, que os cientistas tem procurado dar atenção ao que,em análise transacional, chamamos de outras fomes humanas. Assim como os demais mamíferos, nossas necessidades básicas transcendem em muito a necessidade de alimento e nascemos com um aparato biológico preparado para estabelecermos laços de vínculo e apego com figuras protetoras.

Temos fome de estímulo (necessidade do organismo de ser estimulado), fome de reconhecimento, (necessidade de ser percebido), fome de contato (física, verbal), fome de estrutura (necessidade de organizar o tempo, não só o presente como o médio e longo prazo), fome de incidentes (necessidade de acontecimentos que quebrem a monotonia) e fome sexual (entrega afetiva). O homem é sobretudo um ser social e não sobrevive sem contato.

Os indivíduos têm apetites diferentes em relação a cada uma de suas necessidades ou fomes. Uma pessoa que tenha grande fome de contato e acaba trabalhando em uma atividade na qual fica em silêncio e isolada a maior parte do tempo, pode tentar compensar esta carência com atividades sexuais constantes ou jogos que envolvam contato físico.

Carícia é o termo utilizado para designar a unidade de reconhecimento humano. Podem ser positivas ou negativas de acordo com a maneira que são sentidas. As carícias podem ser entendidas como uma espécie de instinto de reconhecimento global. O indivíduo pode satisfazer sua necessidade de carícias através da satisfação das diferentes fomes, como as mencionadas anteriormente. São fundamentais para a sobrevivência e quando não conseguimos obter carícias positivas podemos nos contentar até mesmo com as carícias negativas pois ainda é melhor receber algum tipo de reconhecimento do que ficar fadado à indiferença. Steiner nos diz que aceitar carícias negativas é como beber água poluída pois a necessidade extrema faz com que desconsideremos as qualidades prejudiciais da mesma.

Seguindo o caminho de Reich, que acreditava que a repressão existia, não para a edificação moral (como as religiões preoconizam) ou para o desenvolvimento cultural (Freud) e sim para a criação de uma estrutura de caráter necessária para a preservação da sociedade repressora, Steiner acreditava que as crianças e adultos são controladas através da regulação das carícias.

Os pais, desde o nascimento, ensinam os seus filhos como devem se comportar, sentir, pensar e perceber. Nem sempre este treinamento básico é positivo. As crianças são, no início de suas vidas, totalmente dependentes dos pais. Shinyashiki faz uma observação importante sobre a diferença entre animais condicionados e domesticados .

“O condicionado precisa da presença do fator condicionante para realizar a conduta enquanto que o domesticado tem o dono internalizado (...) Mesmo que o treinador não esteja por perto , o animal reage como se ele estivesse”(Shinyashiki, R.;1985).

Em um mundo de gente domesticada, o indivíduo precisa se libertar destas influências para desenvolver a autonomia através do contato com os três potenciais humanos primários: consciência (entendimento das coisas como elas são), espontaneidade (capacidade de expressão livre da Criança Natural) e intimidade (dar e receber amor humano).

Em relação à classificação das carícias, além de serem positivas ou negativas ( se nos fazem sentir-nos bem ou mal), as carícas também podem ser incondicionais (se recebemos pelo que somos) ou condicionais (se só a recebemos pelo que fazemos ou temos). Podem ser classificadas também em verbais, físicas, gestuais e simbólicas e, de acordo com a influência no bem-estar, de adequadas e inadequadas. As carícias negativas podem ser classificadas como de lástima, agressivas, falso-positivas e de mimo ou hiperprotetoras. É importante lembrar que nem sempre as carícias positivas são boas e as negativas são más. Devemos levar em conta se as carícias são ou não adequadas. Se verifico que a pessoa fez um trabalho ruim e lhe faço um elogio , esta não é uma carícia positiva adequada. O mais autônomo seria apresentar uma carícia negativa, de maneira construtiva, sem a preocupação excessiva em agradar o outro, para que este possa aprimorar o resultado do seu trabalho.



Kertesz acredita que temos duas baterias de carícias em nós : o pólo positivo e negativo. Acabamos sendo guiados na vida adulta pelo pólo que foi mais carregado na infância. Se tivermos um padrão de bateria de carícias negativas, podemos nos assustar quando nos defrontamos com carícias positivas e racionalizar, pois nosso quadro de referência interno foi organizado pela primazia dos aspectos negativos. Este medo vai se perpetuando em nossas vidas até nos acostumarmos a ignorar nossas necessidades primárias e autênticas.

Vivemos em uma sociedade na qual os adultos estão constantemente com carência de carícias positivas que por sua vez são negadas também para as crianças. Como se as carícias positivas fossem algo finito, como se o amor acabasse, os indivíduos negam o prazer da doação com medo de ficar sem.

Steiner elaborou as chamadas Leis da Economia de Carícias para expicar como ocorre o treinamento básico de Falta de Amor nas crianças. Estas leis são aceitas socialmente e regulam a troca de carícias.

1 – Não dê as carícias positivas que te cabem dar.

2 – Não aceite as carícias positivas que mereces.

3 – Não peças as carícias positivas que necessitas.

4 – Não rejeites as carícias negativas que te dão.

5 – Não dê a si mesmo carícias positivas.



É seguindo estas regras que estruturamos a nossa fome contante de carícias. Observem como são julgadas e mal interpretadas as pessoas carinhosas, que falam claramente quando não gostam de alguma coisa, que aceitam o reconhecimento alheio sem ficar em uma postura de falsa humildade ou mesmo aqueles que são criticados ao gabarem-se de si mesmos e valorizarem as suas conquistas.

As leis da economia de carícias convidam a pessoa a ficar em um circuito negativo ou Não-OK, gerando escassez de carícias positivas e busca de carícias negativas. Steiner diz que podemos substituir as leis da economia de carícias pelas Leis da Abundância de Carícias pois estas se tratam de relacionamento autônomos , autênticos, não-manipulativos e que nos convidam a ficar no circuito positivo ou ok. São elas:



1 – Dê as carícias positivas que te cabem dar.

2 – Aceite as carícias positivas que mereces.

3 – Peças as carícias positivas que necessitas.

4 – Rejeites as carícias negativas que te dão.

5 – Dê a si mesmo carícias positivas.



Tomar consciência de nossos padrões de carícias é fundamental para resgatarmos o prazer e espontaneidade em nossas vidas e também para não seguirmos desenvolvendo comportamentos destrutivos e nos envolvendo em jogos psicológicos que perpetuam roteiros negativos de vida.

Texto de Marco Aurélio Mendes

Outras livros que falam sobre o tema:

Os papéis que vivemos na vida – Claude Steiner

O que dizemos depois de dizer olá ? – Eric Berne

A Carícia Essencial - RobertoShinyashiki

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito legal esse conteúdo. Parabéns!