Dúvidas e Perguntas

Utilize esse espaço para tirar suas dúvidas sobre Psicologia e Psicoterapia. Basta clicar em comentários e digitar o que você deseja saber. Lembramos antes que esse espaço tem como objetivo apenas esclarecer os leitores sobre o tema e não servir como psicoterapia on-line.

Relações Afetivas e Amorosas




Por que repetimos sempre os mesmos padrões em nossos relacionamentos afetivos ?
Marco Aurélio Mendes


Esta é uma pergunta difícil de responder pois, para entendermos os nossos padrões de comportamentos e sentimentos, temos que rever toda a nossa história pessoal : os momentos de ruptura , perda , de alegria e aqueles momentos únicos , que aos olhos dos outros não tem absolutamente nada de anormal mas que para nós se reveste de importância, marcando a nossa vida. Quando as coisas “travam” e já não agüentamos mais repetir os mesmos movimentos, a psicoterapia pode auxiliar bastante nestes questionamentos, nos ajudando a ter um outro olhar sobre o problema e a entendê-lo a partir do seu significado pessoal para nós.
John Bowlby, em seus estudos sobre o apego, mostrou a importância da relação da mãe com o bebê, não só na regulação instintiva e biológica do indivíduo como também na sua participação dos chamados modelos internos de trabalho. E o que seriam estes modelos ? Em nossas relações com as figuras cuidadoras e com o mundo à nossa volta, vamos formando determinados padrões de apreensão da realidade. O ser humano, desde pequeno, busca consistência em suas emoções e pensamentos. Assim, vamos formando esquemas de como percebemos este mundo. Podemos desenvolver estruturas mentais, ligadas por exemplo, ao Abandono. Digamos que, a criança se sente abandonada pela mãe, ou que percebe que não é prontamente atendida pela mesma. Este esquema de abandono traz uma carga muito negativa para a criança, que pode então buscar se isolar afetivamente (pois passa a acreditar que as figuras de que gosta não poderão lhe dar atenção) ou então se apega excessivamente a qualquer pessoa, com medo de perder o contato afetivo ou de ser rejeitada. O significado e a forma que cada pessoa vai dar a sua história é única e, desta maneira, nosso comportamento e maneira de se expressar afetivamente está muito ligada às experiências infantis.
Muitas vezes, o que percebemos na experiência terapêutica, é que acabamos por repetir estes padrões. Na verdade, eles fazem parte da maneira que aprendemos a estar no mundo e até mesmo da nossa identidade. Uma mulher que não se sentiu amada pelos pais, pode ser uma pessoa excessivamente ciumenta ou possessiva, em relação ao seu parceiro pois acaba vendo nele a oportunidade de preencher esta lacuna em sua vida afetiva. Isto pode fazer com que a relação se dê, não em função de um encontro genuíno entre duas pessoas e sim de uma busca neurótica pela solução deste conflito interno.
Quando conseguimos dentro do processo terapêutico, observar a complexa relação entre o presente, o passado e o futuro de nossa vida , podemos nos preparar finalmente para mudar o que nos incomoda e lutar por aquilo que acreditamos que irá nos fazer felizes de verdade.

Vídeo sobre os Experimentos de Harlow

Um dos mais marcantes experimentos nos estudos sobre o apego, foram os realizados por Harlow. Ele demonstrou que havia algo a mais, que ligava os filhotes às suas mães, que não o simples fornecimento do alimento e da proteção. Foram com base nestas pesquisas, dentre outras, que Bowlby postulou o apego como uma necessidade básica dos seres humanos e que "marca" a maneira como percebemos o ambiente e vamos estabelecendo um sentido de nós mesmos.
Ele separou os macacos das mães e montou duas estruturas de arame : a primeira com uma mamadeira e outra coberta por um material macio. Esperava-se que o macaquinho ficasse do lado da mãe de arame mas não foi bem isto que aconteceu. Mesmo quem não domina o inglês, não terá dificuldade em verificar o resultado.



Carícias e Emoções

Desde a década de 60, com os estudos de Harlow, Bowlby e Spitz entre outros, que os cientistas tem procurado dar atenção ao que,em análise transacional, chamamos de outras fomes humanas. Assim como os demais mamíferos, nossas necessidades básicas transcendem em muito a necessidade de alimento e nascemos com um aparato biológico preparado para estabelecermos laços de vínculo e apego com figuras protetoras.

Temos fome de estímulo (necessidade do organismo de ser estimulado), fome de reconhecimento, (necessidade de ser percebido), fome de contato (física, verbal), fome de estrutura (necessidade de organizar o tempo, não só o presente como o médio e longo prazo), fome de incidentes (necessidade de acontecimentos que quebrem a monotonia) e fome sexual (entrega afetiva). O homem é sobretudo um ser social e não sobrevive sem contato.

Os indivíduos têm apetites diferentes em relação a cada uma de suas necessidades ou fomes. Uma pessoa que tenha grande fome de contato e acaba trabalhando em uma atividade na qual fica em silêncio e isolada a maior parte do tempo, pode tentar compensar esta carência com atividades sexuais constantes ou jogos que envolvam contato físico.

Carícia é o termo utilizado para designar a unidade de reconhecimento humano. Podem ser positivas ou negativas de acordo com a maneira que são sentidas. As carícias podem ser entendidas como uma espécie de instinto de reconhecimento global. O indivíduo pode satisfazer sua necessidade de carícias através da satisfação das diferentes fomes, como as mencionadas anteriormente. São fundamentais para a sobrevivência e quando não conseguimos obter carícias positivas podemos nos contentar até mesmo com as carícias negativas pois ainda é melhor receber algum tipo de reconhecimento do que ficar fadado à indiferença. Steiner nos diz que aceitar carícias negativas é como beber água poluída pois a necessidade extrema faz com que desconsideremos as qualidades prejudiciais da mesma.

Seguindo o caminho de Reich, que acreditava que a repressão existia, não para a edificação moral (como as religiões preoconizam) ou para o desenvolvimento cultural (Freud) e sim para a criação de uma estrutura de caráter necessária para a preservação da sociedade repressora, Steiner acreditava que as crianças e adultos são controladas através da regulação das carícias.

Os pais, desde o nascimento, ensinam os seus filhos como devem se comportar, sentir, pensar e perceber. Nem sempre este treinamento básico é positivo. As crianças são, no início de suas vidas, totalmente dependentes dos pais. Shinyashiki faz uma observação importante sobre a diferença entre animais condicionados e domesticados .

“O condicionado precisa da presença do fator condicionante para realizar a conduta enquanto que o domesticado tem o dono internalizado (...) Mesmo que o treinador não esteja por perto , o animal reage como se ele estivesse”(Shinyashiki, R.;1985).

Em um mundo de gente domesticada, o indivíduo precisa se libertar destas influências para desenvolver a autonomia através do contato com os três potenciais humanos primários: consciência (entendimento das coisas como elas são), espontaneidade (capacidade de expressão livre da Criança Natural) e intimidade (dar e receber amor humano).

Em relação à classificação das carícias, além de serem positivas ou negativas ( se nos fazem sentir-nos bem ou mal), as carícas também podem ser incondicionais (se recebemos pelo que somos) ou condicionais (se só a recebemos pelo que fazemos ou temos). Podem ser classificadas também em verbais, físicas, gestuais e simbólicas e, de acordo com a influência no bem-estar, de adequadas e inadequadas. As carícias negativas podem ser classificadas como de lástima, agressivas, falso-positivas e de mimo ou hiperprotetoras. É importante lembrar que nem sempre as carícias positivas são boas e as negativas são más. Devemos levar em conta se as carícias são ou não adequadas. Se verifico que a pessoa fez um trabalho ruim e lhe faço um elogio , esta não é uma carícia positiva adequada. O mais autônomo seria apresentar uma carícia negativa, de maneira construtiva, sem a preocupação excessiva em agradar o outro, para que este possa aprimorar o resultado do seu trabalho.



Kertesz acredita que temos duas baterias de carícias em nós : o pólo positivo e negativo. Acabamos sendo guiados na vida adulta pelo pólo que foi mais carregado na infância. Se tivermos um padrão de bateria de carícias negativas, podemos nos assustar quando nos defrontamos com carícias positivas e racionalizar, pois nosso quadro de referência interno foi organizado pela primazia dos aspectos negativos. Este medo vai se perpetuando em nossas vidas até nos acostumarmos a ignorar nossas necessidades primárias e autênticas.

Vivemos em uma sociedade na qual os adultos estão constantemente com carência de carícias positivas que por sua vez são negadas também para as crianças. Como se as carícias positivas fossem algo finito, como se o amor acabasse, os indivíduos negam o prazer da doação com medo de ficar sem.

Steiner elaborou as chamadas Leis da Economia de Carícias para expicar como ocorre o treinamento básico de Falta de Amor nas crianças. Estas leis são aceitas socialmente e regulam a troca de carícias.

1 – Não dê as carícias positivas que te cabem dar.

2 – Não aceite as carícias positivas que mereces.

3 – Não peças as carícias positivas que necessitas.

4 – Não rejeites as carícias negativas que te dão.

5 – Não dê a si mesmo carícias positivas.



É seguindo estas regras que estruturamos a nossa fome contante de carícias. Observem como são julgadas e mal interpretadas as pessoas carinhosas, que falam claramente quando não gostam de alguma coisa, que aceitam o reconhecimento alheio sem ficar em uma postura de falsa humildade ou mesmo aqueles que são criticados ao gabarem-se de si mesmos e valorizarem as suas conquistas.

As leis da economia de carícias convidam a pessoa a ficar em um circuito negativo ou Não-OK, gerando escassez de carícias positivas e busca de carícias negativas. Steiner diz que podemos substituir as leis da economia de carícias pelas Leis da Abundância de Carícias pois estas se tratam de relacionamento autônomos , autênticos, não-manipulativos e que nos convidam a ficar no circuito positivo ou ok. São elas:



1 – Dê as carícias positivas que te cabem dar.

2 – Aceite as carícias positivas que mereces.

3 – Peças as carícias positivas que necessitas.

4 – Rejeites as carícias negativas que te dão.

5 – Dê a si mesmo carícias positivas.



Tomar consciência de nossos padrões de carícias é fundamental para resgatarmos o prazer e espontaneidade em nossas vidas e também para não seguirmos desenvolvendo comportamentos destrutivos e nos envolvendo em jogos psicológicos que perpetuam roteiros negativos de vida.

Texto de Marco Aurélio Mendes

Outras livros que falam sobre o tema:

Os papéis que vivemos na vida – Claude Steiner

O que dizemos depois de dizer olá ? – Eric Berne

A Carícia Essencial - RobertoShinyashiki

Psicologia Positiva

Para Martin Seligman, psicólogo americano respeitado por suas teorias sobre o “desamparo aprendido”, os últimos 60 anos representaram um esforço da psicologia e da psiquiatria no caminho da cura das doenças. Um novo modelo se desenvolveu a partir do interesse pela etiologia das doenças e também pela descrição e classificação das mesmas, em uma espécie de ciência da doença mental. Novos tratamentos e drogas foram propostos e testados, buscando aliviar o sofrimento, e muitos estudos controlados conseguiram demonstrar a efetividade da psicoterapia e da farmacologia no tratamento das doenças mentais.

Apesar dos benefícios inegáveis deste modelo, Seligman listou algumas conseqüências indesejáveis.Os profissionais da área de saúde se tornaram vitimologistas e patologizadores, diminuindo a importância da responsabilidade e das escolhas dos indivíduos. Na pressa em ajudar o outro a cessar a dor, esqueceram de valorizar o lado positivo dos indivíduos e de realizar intervenções destinadas a auxiliá-los a tornar a sua vida mais alegre e feliz.
No final da década de 90, Martin Seligman e outros cientistas de renome, começaram a realizar estudos rigorosos para compreender a potencialidade humana e a felicidade.
A chamada psicologia positiva desenvolvida por ele,vem justamente no encontro desta lacuna e tem três objetivos principais:
1 – a psicologia deve estar preocupada da mesma maneira com a fraqueza (doença) e com a força (saúde)
2 – deve estar tão preocupada em construir forças e não só em reparar danos.
3 – deve estar preocupada em tornar a vida das pessoas mais felizes, com sentido, facilitando a eclosão dos talentos individuais.
O que Selgiman espera com a criação do campo da Psicologia Positiva é de ver o surgimento de uma nova ciência, de uma ciência que se preocupa com o que faz a vida valer a pena. Podemos definir a psicologia positiva como o estudo científico da potencialidade humana, suas forças e virtudes, do bem-estar e daquilo que nos leva ao funcionamento ótimo, saudável e feliz.Criaram-se alguns inventários e uma classificação das forças e virtudes dos indivíduos, na tentativa de descobrir o processo de causalidade das emoções positivas.
Seligman acredita na existência de três domínios no campo da Psicologia Positiva e cada um deles pode ser explicado por uma conceituação de tipos de vida, que nada mais são do que caminhos para se alcançar uma vida plena :
1 – A Vida Agradável (The Pleasant Life) : quando você tem a maior quantidade possível de emoções positivas que pode ter e a capacidade para ampliá-la, minimizando as emoções negativas. A Vida Agradável nos fala sobre as emoções positivas do passado, presente e futuro. A vida agradável tem desvantagens :a primeira é que ela é em grande parte uma característica hereditária, e em segundo, a de que podemos nos habituar a ela e desvalorizá-la.

2 – A Vida Engajada (The Engaged Life) – consiste na utilização do nosso potencial, das forças pessoais, de caráter e virtude, como integridade, capacidade de amar e ser amado, valor, liderança, etc. Quando a atividade que fazemos, exige o máximo do nosso potencial, tendemos a entrar no chamado estado de fluxo que pode ser entendido como uma espécie de estado na qual o indivíduo fica tão focado e concentrado fazendo algo do qual gosta, que perde a noção da realidade e o tempo parece voar. O grupo de Seligman acredita que há uma receita para isto : procura-se identificar as forças e talentos individuais e auxilia-se o indivíduo a organizar a sua vida de maneira a usá-las o a maior tempo possível.

3 – A vida com sentido (The Meaningful Life) : é a utilização das suas forças pessoais a a serviço de algo maior do que você mesmo, como , por exemplo, um trabalho humanitário, ou a serviço de instituições positivas.

Acredito que as idéias da Psicologia Positiva serão, em um futuro próximo, absorvidas por diferentes abordagens de psicoterapia por se tratarem de uma ampliação do campo de atuação do psicólogo clínico.

Texto de Marco Aurélio Mendes - Psicólogo